11/08/2007

A TV como você nunca viu

Uma noticia sobre a Tv Digital que saiu na revista Época:


A TV como você nunca viu

No Brasil, a ferramenta que permitirá esse tipo de recurso é um software batizado de Ginga, desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). Guido Lemos, que coordenou a equipe da UFPB, diz que as características do sistema nacional são únicas. “Fora daqui nunca houve a demanda de colocar tantas características de um computador no software. Na Europa, nos Estados Unidos e no Japão todos têm computador. Aqui, não.” O sistema inventado pelos pesquisadores brasileiros permite que os telespectadores usem outros aparelhos, além do controle remoto, para trocar informações com as emissoras. Pode ser até um celular.
O Ginga brasileiro é mais versátil que o sistema japonês. Durante o programa de auditório Kouhaku Utagassen, da emissora japonesa NHK, exibido sempre no último dia do ano, os espectadores elegem os melhores cantores. O público vota de casa com o controle remoto. Mas lá só se registra um voto por televisor. “Aqui no Brasil, com o celular, todos que estão assistindo a um programa como esse poderão participar ao mesmo tempo. Além de envolver mais gente, esse sistema permite que as emissoras e os anunciantes saibam quem está votando, pelo número de celular. Com isso, elas saberão melhor as preferências e os hábitos dos consumidores”, diz Lemos.
As possibilidades de interação com o espectador definirão o sucesso dos novos programas. “As atrações que mexam com o público vão se popularizar muito rápido”, diz Carlos Brito Nogueira, assessor de planejamento da Central Globo de Engenharia. Antes de pensar na interação, as emissoras estão investindo em equipamentos para gravar em alta definição. A Globo não revela quanto investiu, mas analistas estimam o valor em cerca de R$ 200 milhões. A Record diz ter investido R$ 50 milhões. A Bandeirantes e a Gazeta afirmam estar gastando R$ 40 milhões cada uma. Os primeiros programas em alta definição no Brasil são as novelas. A Globo e a Band já estão transmitindo as novelas Duas Caras e Dance Dance Dance, respectivamente, em alta definição.
“A imagem em alta definição tem seis vezes mais qualidade do que se vê atualmente na televisão”, diz Raymundo Barros, diretor de engenharia da TV Globo em São Paulo. Segundo ele, os detalhes para os espectadores serão muito mais ricos. Rodrigo Hilbert, que vive o personagem Ronaldo, descreve como as mudanças afetam cada detalhe do cenário. “Uma parede de tijolo, por exemplo, terá de ser uma parede de tijolo, e não uma parede cenográfica.” Barros diz que isso será especialmente importante em novelas ou séries de época, gravadas em externas ou em construções antigas do patrimônio histórico. São cenários que podem ter defeitos de fachada, fios expostos ou má conservação, e exigirão mais empenho de correção na fase de pós-produção. Além disso, os produtores de novela também já estão pensando as cenas para uma tela mais retangular, quase como a do cinema.
Será que os atores terão de ser mais novos, sem rugas? Essa é a preocupação do tradutor Silvio Hisashi Imafuku, brasileiro de 40 anos que mora no Japão e já acompanhou as mudanças vividas na televisão por lá. “A idade do pessoal da TV vai precisar diminuir, pois com as 60 polegadas e alta definição fica impossível não reparar nos traços s no rosto”, afirma. O supervisor de maquiagem da novela Dance Dance Dance discorda. “É como no cinema, os velhos continuam tendo seus papéis”, diz. “Só que na TV a diferença terá de ser na leveza da mão do maquiador, para que não fique tão perceptível.”
Uma das novidades da TV digital é a chance de assistir a programas em celulares ou notebooks
Outra grande novidade trazida pelo padrão digital de televisão é a chance de assistir à televisão em equipamentos móveis, como celular, computadores de mão, notebooks ou uma espécie de miniTV. Isso será possível desde o primeiro dia de transmissão do sinal e deve fazer com que suba a média de tempo que hoje os brasileiros dedicam à televisão. Segundo o IBGE, o brasileiro médio gasta cerca de 4,5 horas por dia em frente à TV. “As pessoas passarão a ver TV também enquanto estiverem em filas de espera e principalmente durante o trajeto que percorrem entre sua casa e o trabalho ou a escola”, diz o presidente do Fórum Nacional de TV Digital, Roberto Franco. “Em São Paulo, muita gente gasta mais de duas horas para ir e voltar do trabalho.” No Japão, esse espectador em trânsito é tão importante que foi criado um pico de audiência paralelo. Nos equipamentos móveis – que recebem o sinal digital de televisão aberta desde 3 de abril de 2007 – registram-se as maiores audiências entre 17 e 20 horas. Na televisão fixa, o horário nobre é de 18 a 21 horas.
Por causa disso, analistas imaginam que o consumo de TV será uma atividade mais individual. Cenas que poderiam ser consideradas fortes ou inapropriadas para a televisão fixa, na sala de estar, com a família reunida, seriam veiculadas para equipamentos móveis portáteis. As emissoras podem reservar um canal específico para transmitir programas de TV móvel. As telinhas de miniDVDs, já vistas hoje em alguns carros, poderão também ser telas de televisão aberta. Isso pode ajudar a diminuir a sensação de perda de tempo no trânsito ou distrair as crianças no caminho da escola. Com a televisão digital, a imagem se mantém com o mesmo padrão de qualidade durante deslocamentos de até 120 quilômetros por hora. No Japão, o número de pessoas com equipamentos de televisão em carros subiu de 260 mil, no ano passado, para 777 mil em 2007, segundo pesquisa da Japan Electronics and Information Technology Industries Association.
Se forem confirmadas todas as promessas, estará finalmente realizado o maior sonho tecnológico da era digital: a convergência de sons, imagens e dados em um único aparelho, exuberante como o cinema, interativo como a internet e onipresente como os celulares. Um aparelho que terá o mesmo nome daquele que está na sala de nossas casas: televisão.

O engenheiro paulistano Gustavo Araujo, de 28 anos, está pensando em comprar um novo aparelho de televisão. Em vez de aproveitar as promoções que tomaram conta das lojas, ele diz que ainda vai esperar. Araujo, funcionário da Telefônica de São Paulo, sabe que está nascendo uma nova era da TV no Brasil. No dia 2 de dezembro, a TV digital vai estrear no país. “Quero comprar um aparelho que já aproveite o potencial da nova tecnologia”, diz. “Vou poder ver filmes e navegar na internet no mesmo aparelho.”
Ele não é o único a alimentar expectativas de uma nova experiência diante da TV. A mudança deverá chegar, no futuro, à casa dos 163 milhões de pessoas com televisão colorida no Brasil. O início das transmissões digitais promete aos poucos revolucionar o entretenimento mais popular do país. A programação do governo federal prevê que a transmissão comece na cidade de São Paulo e siga para as demais capitais ao longo de 2008 e para o interior a partir de 2009. O Brasil inteiro deverá receber os sinais digitais até 2016. Aí as transmissões de hoje – analógicas – serão interrompidas.
No início, a surpresa se resume à imagem e ao som de melhor qualidade, com cores e um nível de detalhes equivalentes aos de DVD. O sinal da TV digital vem codificado. Se houver algum problema na transmissão do sinal, o sistema corrige as distorções. Isso significa que, aonde chegar o sinal digital, ninguém mais vai precisar colocar esponjas de aço na ponta das antenas. O novo formato exclui o risco de fantasmas, ruídos e interferências nas imagens. Quem comprar uma TV de alta definição (chamada de “full High Definition” ou “full HD” nas lojas) vai contar com uma qualidade jamais vista. A TV comum tem uma imagem composta de 307.000 pontos iluminados (os pixels). Na TV de alta definição, são 2 milhões de pixels. É quase um cinema.
Só isso deve justificar a compra de novos aparelhos para muita gente. Mas a maior promessa da TV digital vai além. Esse tipo de transmissão permite aos telespectadores interagir com as emissoras, seja opinando, seja comprando produtos que apareçam nos programas, seja estudando, em cursos pela TV. Para pessoas como Araujo, que passa duas horas por dia simultaneamente assistindo à TV e navegando na internet, há mais um atrativo. Com a TV digital, será possível concentrar na própria televisão os recursos de computador e os da televisão tradicional. Também será possível pagar contas, checar a restituição do Imposto de Renda ou até fazer a declaração de isento por um sistema da Receita Federal.
QUALIDADE Gravação da novela Duas Caras, da Globo. A emissora já está filmando com equipamentos de alta definição. Quem tiver uma TV adequada terá imagem de cinema
Essas possibilidades todas devem estimular a venda de aparelhos de TV no país, segundo a Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros). O Ministério das Comunicações calcula que o número de lares com TVs, hoje em 50,8 milhões, chegue a 80 milhões até 2012. Mas ninguém precisa correr para substituir sua TV agora. Para receber esse novo sinal digital, o consumidor pode optar por adquirir um aparelho receptor com antena embutida, chamado “set up box”, que será acoplado ao televisor. O ministro das Comunicações, Hélio Costa, afirma que o preço partirá de R$ 200. A indústria por enquanto fala em R$ 700.
Uma boa amostra do que vem por aí é a TV japonesa, que já tem sinal digital há dez anos e cujo padrão de s transmissão de sinais será adotado no Brasil. “Aqui, os telespectadores já podem conferir informações sobre os programas na tela da TV”, diz Takakazu Ito, responsável pela área de desenvolvimento de novos produtos da emissora japonesa IPC World. “Quem está vendo um jogo de futebol pode acessar dados sobre o campeonato ou a carreira de cada jogador. Os filmes vêm com dados do roteiro ou do elenco.”
Segundo Ito, alguns programas japoneses começaram a usar os recursos de interação, ainda de forma incipiente. Há um programa de turismo em que os telespectadores podem se inscrever previamente e participar da atração. Todos “largam” com US$ 500. O apresentador, ao longo do programa, mostra locais turísticos, sempre apresentando opções de restaurantes e hotéis. De casa, o público vai marcando por meio do controle remoto suas escolhas e, ao final, quem encerrar “a viagem” com o orçamento mais próximo do definido no início ganha um prêmio. “Outra possibilidade que virou mania é dividir a tela, para que se possa assistir a diversos programas ao mesmo tempo. Isso pode significar o fim do zapping no controle remoto”, diz Ito.


Quando receberei o sinal digital em minha casa?Começará na cidade de São Paulo, no dia 2 de dezembro. Depois, entram as cidades de Belo Horizonte, Brasília, Fortaleza, Rio de Janeiro e Salvador. Todos os municípios do país deverão receber o sinal digital até 2016.Devo comprar o adaptador para a TV digital (set up box) ou uma nova televisão?Com um receptor, uma caixinha ligada à TV, é possível captar o sinal digital e obter imagem com qualidade de DVD. Mas quem quiser ver em alta resolução, como se fosse cinema, precisa comprar um aparelho de TV de alta definição (chamado “full HD”). Algumas dessas TVs já vêm com receptor embutido. No futuro, todas serão assim.É verdade que em algumas regiões o sinal digital de televisão pode não chegar?Sim. Quem hoje tem dificuldade para receber o sinal analógico também pode ficar sem o sinal digital. Em lugares como o subsolo será preciso usar uma antena externa digital.O que eu faço se não tiver sinal em minha casa?Se o consumidor chegar em casa após comprar o equipamento e não receber nenhum sinal, a dica é que procure o fabricante do produto. Se não estiver funcionando apenas um ou outro canal, é melhor que procure a emissora do sinal faltante, que deverá colocar uma antena retransmissora na região – se achar necessário – sem custos para o espectador.O que acontece se eu não quiser aderir à TV digital e não quiser investir em receptores internos nem externos?Nada até 2016, quando o sinal analógico comum deverá ser desligado. O que muda para quem assiste à TV com antena parabólica ou cabo?Continua tudo igual. As operadoras de TV por assinatura já transmitem digitalmente. Só que sem imagens de alta definição.

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